Suíço anda 2.900 km para revitalizar turismo no Japão

Caminhada começou em 1o de agosto de 2011, a partir de Soya Misaki, em Hokkaido
Caminhada começou em 1o de agosto de 2011, a partir de Soya Misaki, em Hokkaido
O suíço Thomas Köhler é um agente de viagens especializado no Japão. Quando aconteceu o tsunami em 11 de março de 2011, ele viu reservas serem canceladas uma após a outra.

Isso não aconteceu apenas na Suíça; no mundo inteiro, muitas pessoas desistiram de ir ao Japão, tanto a trabalho como a passeio, temendo novos tremores e a crise nuclear. Pela mesma razão, milhares deixaram o país.

Assim, Thomas decidiu não apenas ir ao Japão, mas iniciar uma caminhada de 2.900 km e 153 dias. A partir de Hokkaido, ele andou até a província de Kagoshima, no sul.

“Quis apresentar um Japão diferente, as maravilhosas paisagens ao longo da costa oeste. Quis mandar sinais positivos do Japão para o mundo, para que visitantes estrangeiros voltassem ao Japão”, contou Thomas a Made in Japan.

Thomas registrou a viagem diariamente em seu blog, com muitas fotografias – clique aqui para ler o primeiro post (em inglês, alemão ou japonês).

“Catorze anos atrás, morei por um ano e meio no Japão, e também já viajei muitas vezes para o país. Amo o Japão e amo ainda mais depois de minha caminhada”, afirmou Thomas.


A jornada também teve como fruto o documentário Negative: Nothing, que mostra a caminhada, paisagens e encontros. O filme encontra-se em fase de pós-produção e tem previsão de lançamento para setembro – clique aqui para acessar o site oficial.

“Nós nos inspiramos pela jornada de Thomas e sentimos que ela poderia se tornar uma história emocionante que alcançaria não apenas o Japão, mas também o público internacional”, disse Stephan Knuesel, que, junto com o irmão Jan, dirigiu e produziu o documentário.

Na continuação, leia entrevista com Thomas Köhler e Stephan Knuesel.

Entrevista: Thomas Köhler e Stephan Knuesel
Como você se interessou pelo Japão?
Thomas Köhler: Começou na minha infância. Eu tinha um forte interesse no Japão, com sua bela cultura e tradições. É por isso que eu estudei muito japonês, porque o idioma é a chave para mais.
A cultura japonesa é bem conhecida na Suíça?
Thomas: Sim, muitos suíços gostam do Japão. As pessoas na Suíça também gostam de comer sushi, fazer ikebana e praticar judo, aikido, karate, shodo, chado e por aí vai.
Você decidiu ir ao Japão logo após o terremoto, tsunami e crise nuclear. Como se toma uma decisão dessas?
Thomas: No passado, recebi muito do Japão, e por causa do meu amor pelo Japão, eu quis dar algo em troca para ajudar. Eu lamentei muito por aquelas pessoas e quis ajudar. Eu quis mostrar o tamanho do Japão e que não todo o país estava como Fukushima.
Quis apresentar um Japão diferente, as maravilhosas paisagens ao longo da costa oeste. Quis mandar sinais positivos do Japão para o mundo através do meu blog diário para que visitantes estrangeiros voltassem ao Japão.
A caminhada durou 153 dias, no total de 2.900 km
A caminhada durou 153 dias, no total de 2.900 km
Qual foi a reação da sua família?
Thomas: Minha família deu o melhor suporte que eu poderia ter. Todos eles amam o Japão, assim como meus amigos.
Foi necessária uma preparação física?
Thomas: Sou um corredor de maratona. Já participei de mais de 40 maratonas (percurso de 42,195 km cada). Eu sei o que é sofrer; ainda assim, eu me preparei bem fisicamente.
Você se lembra do que passou pela sua cabeça assim que chegou ao aeroporto no Japão?
Thomas: Sim, ainda lembro muito bem. Eu disse para mim mesmo “agora estou no Japão e farei o meu melhor por ele”.

Quanto tempo durou a jornada?
Thomas: Durou cinco meses, de 1º de agosto a 31 de dezembro. Aqui estão mais alguns números.
Cliques no site no período: 132.347
Postagens no blog: 153, com cerca de 2.500 fotos (todos os dias)
Bagagem: 14 kg
Distância percorrida por dia, sem contar dias de descanso: 23,577
Distância total: 2.900 km
Km por mês: Agosto - 630 km; setembro - 460 km; outubro - 560 km; novembro - 630 km; dezembro - 620 km
Dias de caminhada: 123 dias
Número de dias de descanso (incluindo comemorações em meio período, paradas em razão de furacão e dias de filmagem): 30 dias
Número total de dias: 153 dias
Acredito que você teve muitos momentos marcantes durante sua jornada. Pode nos contar um?
Thomas: No fim de novembro (dia 25), quando já estava frio, eu não consegui encontrar um lugar para passar a noite, então decidi continuar e dormir na minha tenda. No porto, perguntei sobre um lugar para pernoitar para um casal de idosos. Depois de algumas frases, eles me convidaram para ir à sua casa. Eles me ofereceram um jantar delicioso, e conversamos a noite inteira. O sr. e a sra. Sakamoto me contaram muito sobre a região e sua história. Foi outra ótima noite no Japão que nunca esquecerei. Pessoas muito, muito pacíficas e atenciosas.
Thomas visita restaurante na província de Oita
Thomas visita restaurante na província de Oita
Em algum momento na sua jornada você se sentiu sozinho ou que seu esforço não valeria a pena?
Thomas: Fisicamente, não foi fácil, mas, mentalmente, não tive absolutamente problema algum. Quando cheguei ao Cabo Sata [província de Kagoshima], me senti um pouco triste porque era o fim… Foi uma jornada fantástica. Nunca tive um mau momento, negativo: nada! Nunca me senti sozinho!

Como era a sua alimentação?
Thomas: No Japão, não há problema para comprar comida. Eu geralmente comprava comida em lojas de conveniência e supermercados, ou comia lamen nos restaurantes e por aí vai.
Hoje, o que você pode dizer para aqueles que ainda estão com medo de viajar para o Japão?
Thomas: Mais de 120 milhões de pessoas estão vivendo no Japão e a vida continua. Quem quer viajar para o Japão não deve se preocupar. Se alguém estiver preocupado, é melhor consultar a embaixada e não acreditar nas notícias negativas da imprensa!
Para aqueles que, eventualmente, fiquem inspirados em fazer uma viagem semelhante à sua, o que você diria?
Thomas: Que a façam, vocês nunca se arrependerão. O Japão é um país maravilhoso!
Sobre a produção
Quais os aspectos mais desafiadores na produção do documentário?
Stephan Knuesel: Jan é um jornalista e especialista em Japão na Suíça, e eu sou um diretor e cameraman em Nova York. Somos irmãos, mas nunca havíamos trabalhado juntos antes. Então isso foi um fator desconhecido.
Nossas expectativas eram muito pequenas no começo. Queríamos fazer um breve perfil de Thomas e avaliar o quão bem trabalharíamos juntos. Mas assim que começamos a trabalhar, as coisas foram realmente tranquilas, e muitas pessoas talentosas e generosas nos ajudaram. Percebemos rapidamente o grande impacto que Thomas teve nas pessoas no Japão e como isso se traduziu tão bem no filme.
Outra surpresa agradável foi que as minhas habilidades e as de meu irmão se completaram e realmente trabalhamos bem e eficientemente juntos.
Nós nos inspiramos pela jornada de Thomas e sentimos que ela poderia se tornar uma história emocionante que alcançaria não apenas o Japão, mas também o público internacional.
A estrutura e o arco de história para o documentário foi planejado anteriormente na Suíça. Entramos na jornada com Thomas sabendo que precisaríamos obter tipos específicos de imagens, momentos e declarações dele e de outras pessoas para, no final, termos uma história completa para o documentário.
Por um lado, tivemos essa lista de tarefas com os elementos necessários; por outro, era importante para nós que estivéssemos abertos para surpresas e para o registro de encontros inesperados com todas as pessoas maravilhosas que Thomas encontrou no caminho.

Qual tipo de câmera foi utilizada para as filmagens?
Stephan: Optamos por uma DSLR (digital single lens reflex), o que nos deu a melhor qualidade de acordo com nosso orçamento. O som foi gravado separadamente com microfones wireless de lapela e um gravador de campo. Foi importante para nós manter o equipamento leve e mínimo. Éramos uma pequena equipe de duas pessoas, então tivemos que desempenhar muitas funções. Queríamos ser flexíveis e interferir o mínimo possível para conseguir reações naturais de Thomas e dos japoneses que encontramos pelo caminho.
Jornada terminou em Sata Misaki, em Kagoshima
Jornada terminou em Sata Misaki, em Kagoshima
Em quais países vocês planejam lançar o filme?
Stephan: Atualmente, estamos planejando duas premieres: uma em Tokyo e uma em Zurique no próximo outono. Depois disso, partiremos para os festivais regulares e pretendemos exibi-lo no máximo de países possível.
Até o momento, recebemos propostas de exibições do Japão, de alguns países da Europa e dos Estados Unidos. Esperamos que a palavra se espalhe e mais oportunidades apareçam para contar a história de Thomas.
A história é universal, e o mundo inteiro dedicou atenção ao Japão depois de 11 de março de 2011. Estamos admirados com a iniciativa e as conquistas de Thomas. Ele realmente mostrou que uma pessoa pode fazer diferença no outro lado do mundo com uma ideia simples mas inspiradora. Ele também mostrou como o mundo ficou pequeno e interconectado.
O Brasil tem a maior comunidade japonesa fora do Japão. Seria possível lançar o filme por aqui?
Stephan: Espero encontrar oportunidades para exibições no Brasil, certamente. O fato de abrigar a maior comunidade japonesa fora do Japão faz com que o Brasil esteja na nossa lista de prioridades. Ficaríamos honrados com tal oportunidade!
Para saber mais
Site de Thomas Köhler: http://www.japanfenster.ch/
Blog da viagem: http://www.japanfenster.ch/japantrip/en/
Site de Negative: Nothing: http://negativenothing.com/

Fonte -> Made in Japan




Um comentário:

MAIS POSTAGENS *--*