Historia da Moda Japonesa
Dos Vestidos de Corte às Grifes de Estilistas
Junihitoe
Mulher em um traje de corte cerimonial (junihitoe)
(Foto cortesia de AFLO)
O Vestido Japonês em Tempos Antigos
Existem documentos que indicam que antes do século IV os
homens japoneses se envolviam em largos tecidos que eram presos aos
ombros, enquanto as mulheres usavam uma única peça de tecido com uma
abertura no centro que se ajustava ao redor do pescoço. Esses tipos de
roupas também se encontravam em outras partes do mundo, como nas antigas
Grécia e Roma, e na Indonésia e no Peru.
O uso de roupa costurada se remonta ao século IV, quando a estrutura política conhecida como a corte de Yamato (Yamato chotei)
se encontrava em uma etapa de desenvolvimento. Os homens e as mulheres
vestiam uma peça de roupa superior que se estendia por baixo da cintura
com mangas retas e apertadas. Como vestimenta inferior, os homens
vestiam uma espécie de calça larga chamada e hakama, e as mulheres saias longas com pregas conhecidas como mo.
Durante os períodos Asuka (593-710) e Nara (710-794), quando o
budismo foi introduzido e a cultura chinesa era popular, as roupas
vestidas pelas pessoas associadas com a corte imperial mostraram forte
influencia da China.
Durante o período Heian (794-1185), os trajes da
corte se dividiam em três categorias: trajes para cerimônias especiais,
trajes formais para vestidos na corte imperial e roupas convencionais
para outras ocasiões. As roupas formais para homens se chamavam sokutai. As roupas das mulheres eram formadas por muitas camadas; o traje formal conhecido como junihitoe tinha doze camadas.
Durante os períodos Kamakura (1185-1333), os homens da classe
guerreira (samurais) que se encontravam na sede do governo vestiam sokutai nas ocasiões formais, mas suas roupas convencionais eram conhecidas como kariginu,
e se baseavam em roupas que se vestiam em expedições para caça. As
mulheres da classe samurai vestiam em ocasiões normais uma roupa de seda
acolchoada chamada de kosode, as quais não eram muito
diferentes de um tipo feminino de roupa tradicional e formal que ainda
se usa na atualidade. Mas em ocasiões formais vestiam uma espécie de
toga larga chamada de uchikake.
No período Edo (1603-1868), os homens da classe guerreira vestiam trajes como o kamishimo quando atendiam ao shogun, mas em condições normais, tanto homens como mulheres vestiam o kosode e o hakama. Por aquele tempo se converteu em um costume usar um tipo de faixa chamada de obi envolta da cintura; os homens da classe guerreira colocavam as espadas dentro de suas obi. O obi das
mulheres era geralmente mais largo e decorado. No princípio do período
Edo muitas pessoas se vestiam de maneira simples, as mulheres mesmo em
ocasiões formais podiam se vestir com uchikake. Mas mesmo a
vestimenta cotidiana foi adquirindo gradualmente maior elegância com o
surgimento dos materiais com cores atrativas e os padrões de bom gosto
que ainda se podem ver nos quimonos na atualidade.
Obi
Obi (faixa) utilizada no quimono
(Foto cortesia da AFLO)
Dos Trajes Japoneses aos Ocidentais
Após o começo do Período Meiji (1868-1912), os militares,
os policiais e as pessoas que trabalhavam para o serviço dos correios
adotaram uniformes de estilo ocidental. Isso gerou um ímpeto
particularmente forte às grandes mudanças que se produziram com o tempo
na maneira de se vestir dos japoneses. Além disso, no princípio do
período Meiji, a roupa predominante era o quimono. Para as ocasiões
formais os homens vestiam normalmente o haori (jaleco tradicional), o hakama
e os chapéus de estilo ocidental, enquanto algumas mulheres que vestiam
ao estilo japonês, começaram a usar sapatos ao estilo ocidental. Essa
combinação de estilos japonês e ocidental, como de sapatos com quimonos,
ainda pode ser vista na atualidade entre as jovens universitárias
durante as cerimônias de graduação.
No começo do período Showa (1926-1989), as roupas para
os homens eram em sua grande maioria do tipo ocidental, e os trajes de
negócios se converteram em padrão para os funcionários das empresas. As
mulheres que também trabalhavam fora de casa começaram a vestir aos
poucos com roupas ocidentais, e muitas outras começaram a vestir com
esse estilo até em suas casas.
Mulher com quimono
(Foto cortesia da AFLO)
A Moda Atual Sempre em Mudança no Japão
Os anos 1940
Ao final da Segunda Guerra Mundial, as mulheres se desfizeram das calças largas chamadas de monpe,
as quais haviam sido obrigatórios para realizar trabalhos relacionados
com a guerra, e começaram a vestir saias. Naqueles tempos, a maioria das
modas que entravam no Japão procedia dos EUA. Desde finais dos anos
1940 até 1950, as mulheres se encantavam com o estilo chamado
“americano”, com grandes saias estreitas na cintura e largas na parte
inferior, e com cintos amplos.
Até certo ponto, a moda de Paris também foi introduzida
passando antes pelos EUA. Em 1947, Christian Dior fez a sua estréia com
a sua Paris Collection e, no ano seguinte, uma quantidade
considerável de informação relacionada ao novo estilo de Dior chegou ao
Japão via EUA. As mulheres japonesas foram envolvidas com a onda de
interesse pelo “novo estilo” que se estava popularizando em todo o
mundo.
Os anos 1950
Em um tempo onde viajar ao exterior era algo quase
impossível para a maioria das pessoas, os filmes se converteram em uma
fonte importante de informação relacionada ás modas estrangeiras. No
Japão se exibia muitos filmes que brindavam os japoneses com a
oportunidade de ver a moda e o estilo de vida dos europeus e
norte-americanos. Muitas modas passageiras surgiram como resultado dos
filmes. Quando foi exibido o filme inglês “The Red Shoes” (“Os Sapatos
Vermelhos”) em 1950, os sapatos vermelhos alcançaram imediatamente
grande popularidade entre as jovens. E quando o filme “Sabrina” foi
projetado, com a atriz Audrey Hepburn, em 1954, as jovens começaram a
vestir calças de estilo toureiro e sapatos “Sabrina”.
Depois do filme “Taiyo no Kisetsu”
(conhecido em inglês como “Season of Violence”) ser exibido, baseado na
novela de Ishihara Shintaro – ganhadora do prêmio Akutagawa, também em
1956 – muitos japoneses imitaram a moda dos personagens do filme e
passaram a ser conhecidos pelo nome “a tribo do sol” (taiyo-zoku).
No verão, os homens vestiam camisetas, camisas havaianas e óculos de
sol, enquanto as mulheres eram vistas nas ruas vestindo calças curtas
com estampados com cores muito vivas.
Cerimônia de graduação
Jovem mulher com o vestuário para a cerimônia de graduação universitária
(Foto cortesia da AFLO)
Os anos 1960
Durante esse período, os jovens se converteram nos
árbitros indiscutíveis da moda. Foram tempos de transição dos preços
altos da alta costura aos preços baixos dos artigos prêt-à-porter, conhecidos em japonês pelo nome puretaporute (do francês, prêt-à-porter), desde o formal ao mais casual.
As minissaias exibidas na Paris Collection de 1965 foram
introduzidas imediatamente no Japão. Os meios de comunicação se opuseram
às minissaias dizendo que não eram adequadas para o físico da mulher
japonesa, mas depois da visita ao Japão da modelo inglesa Twiggy,
conhecida como a “rainha da minissaia”, essas peças alcançaram grande
popularidade. As minissaias foram adotadas primeiro pelas mulheres
jovens, e logo também pelas mulheres de mais idade, e seguiram sendo um
artigo de moda bem estabelecido até aproximadamente o ano de 1974.
No caso da moda masculina, algumas das mudanças mais importantes se
produziram a partir de meados dos anos 1960. Cabe destacar a aparição do
estilo “Ivy”, que rendia homenagem às supostas modas dos estudantes das
universidades particulares “Ivy League”, da elite norte-americana. Esse
estilo adotou as modas tradicionais das elites norte-americanas e,
ainda que passasse por vários mini-ciclos de popularidade e queda,
acabou se estendendo aos jovens empregados das companhias às pessoas de
meia idade.
Em contraste com as modas populares dos jovens, os
trajes usados pelos empregados das companhias eram propensos a ter tons
escuros, com o resultado de que os empregados das companhias japonesas
começaram a ser chamados jocosamente de dobunezumi-zoku (a tribo dos ratos de esgoto).
Os anos 1970
Por volta de meados dos anos 1970, a moda que se
desenvolveu nas cidades portuárias de Kobe e Yokohama passou a ser
conhecida pela palavra nyutora (tradicional novo) e hamatora
(tradicional de Yokohama). Essas foram basicamente o equivalente
feminino da moda “Ivy League” norte-americana tradicional para os
homens. Os slogans utilizados para identificar o estilo nyutora, que teve sua origem em Kobe, foram onna-rashisa (ter aparência feminina) e otonappoku mieru (ter aspecto adulto). Típico do estilo nyutora era vestir uma blusa simples com uma saia semi larga que chegasse até os joelhos. Em contraste, o estilo hamatora, cuja origem remete a Yokohama, se caracterizou pela palavra kodomopposa
(qualidade de criança), e as camisetas grossas com insígnias dos
estilistas e gola dobrável – semelhante às golas das camisas pólo – eram
muito vistas nos pontos de venda.
Na segunda metade dos anos 1970, fez-se popular entre
os adolescentes a “moda dos surfistas” e foi gerado um interesse
renovado pelas modas norte-americanas dos anos 1950.
Anos 1980
Nos anos 1980, quando o Japão se precipitou na chamada economia de bolha, iniciou-se o auge do que ficou conhecido como DC burando,
que significa “marcas de desenhistas e personagens”, ou seja, marcas de
roupas com insígnias ou outros conceitos de desenho que identificam
claramente os desenhistas das modas específicas.
Desenhistas japoneses como Takada Kenzo, Miyake Issey e
Yamamoto Kansai continuaram atuando ativamente no mundo da moda
internacional, onde os seus trabalhos foram merecedores de muitos
elogios. As modas de Yamamoto Yoji, do grupo de desenhistas “Y´s”, e os
estilos de cores escuras e idiossincráticas de Kawakubo Rei, do grupo de
desenhistas “Comme dês Garçons”, que chamaram
consideravelmente a atenção ao ser exibidos na Paris Collection,
alcançaram um tipo de popularidade similar a um culto. Também se fizeram
notar as modas de Kikuchi Takeo e Inaba Yoshie, do grupo de desenhistas
“Bigi”, e Matsuda Mitsuhiro, o grupo “Nicole”.
Na segunda metade dos anos 1980, a moda feminina tomou duas direções distintas, uma conhecida como o estilo bodikon (consciência do corpo), que realçava as linhas naturais o corpo, e a outra conhecida como estilo shibukaji
(casual Shibuya), que teve origem entre as universitárias que
freqüentavam as ruas comerciais no distrito de Shibuya, em Tóquio. Nessa
época, as roupas “consciência do corpo” usadas por um crescente número
de jovens vistas dançando nas discotecas do Japão se converteram em um
tópico freqüente das conversas. O conceito básico por detrás do popular
estilo shibukaiji foi a simplicidade e a durabilidade.
Até entre os empregados de companhias conhecidos
antigamente como “ratos de esgoto”, os mais jovens começaram a vestir a
cada dia mais roupas da moda. Hoje em dia os conceitos de “simples” e
“sóbrio” são ainda característicos do uniforme básico do assalariado
japonês. Por outro lado, ocorreram algumas mudanças de idéias
relacionadas com os tipos de roupa que são apropriadas para o ambiente
dos negócios. Por exemplo, muitas empresas permitem que seus
funcionários trabalhem usando roupas casuais às sextas-feiras, às
vésperas dos finais de semana.
Shibu-kaji
A moda Shibu-kaji (Shibuya informal) foi popular entre os jovens na década de 1980
(Foto cortesia do Salão de Investigação da Cor e Desenho do Colégio Universitário feminino Kyoritsu)
Os anos de 1990
Depois do colapso da “economia de bolha”, a moda,
como muitos outros setores nos anos 1990, encontrava-se em um período de
confusão sem perspectiva clara para o futuro. Alguns comentaristas
detectaram na última metade da década elementos de orientalismo e
romantismo. Contudo fundamentalmente o final da década de 1990 pode ser
considerado como uma era de coexistência entre muitos estilos e sem
nenhuma tendência única predominante.
Talvez o que foi mais evidente na década de 1990
tenha sido o fenômeno mediante o qual as estudantes das escolas
secundárias tenham estabelecido as tendências da moda. Uma imagem comum
nas ruas são os grupos de garotas com cabelo comprido tingido de marrom,
pele muito bronzeada, minissaias ou calças curtas na parte inferior e
meias folgadas e largas que se deixam cair sobre a parte de cima dos
sapatos.
Meias soltas
As meias soltas e folgadas causaram furor entre as universitárias na década de 1990
(Foto cortesia do Salão de Investigação da Cor e Desenho do Colégio Universitário feminino Kyoritsu)
Os anos 2000
Na primeira década do século XXI a deflação, que
teve o seu início com o colapso da bolha financeira de 1990 e a
prolongada crise econômico que se seguiu no Japão, se estendeu também
pelo mundo da moda. Sempre houve a venda de produtos econômicos de
produção em massa, mas a nova tendência consistia em produtos que
incorporavam os estilos mais recentes e com alta qualidade. Conhecida
como “moda rápida”, fabricantes japoneses famosos estão expandindo
negócios também para o exterior. Os fabricantes estrangeiros que criaram
o conceito da “moda rápida”, por sua vez, penetraram o mercado japonês,
abrindo lojas em grandes centros comerciais.
Ao mesmo tempo, grifes estrangeiras de luxo
destinadas à classe alta continuam sua expansão no Japão, abrindo lojas
em Ginza, Tóquio, e em regiões próximas, constituindo o fenômeno oposto
ao da “moda rápida”. Além disso, a “Tokyo Girls Collection”, um evento
de moda destinado às jovens e adolescentes que se iniciou em 2005,
adquire a cada ano maior popularidade. Em cada evento apresentam mais
novidades, como um sistema que permite comprar roupa da moda a preços
razoáveis acessando diretamente um site por meio de um celular smartphone (keitai) no mesmo instante em que uma modelo famosa estiver desfilando com uma nova peça na passarela.
Coleção “Tokyo Girls”
(Foto cortesia de “Tokyo Girls Collection 2009 S/S”)
O Futuro dos Trajes Tradicionais Japoneses
Atualmente é difícil ver um quimono sendo usado no Japão.
Algumas pessoas mais idosas, que usavam desde a juventude, ainda o
usam, assim como atendentes em restaurantes tradicionais, pessoa que
ministram aulas de artes e costumes japoneses como dança, cerimônia do
chá ou de arranjos florais. O quimono é, comparando-se com as roupas
ocidentais, mais trabalhoso de se vestir, e limita as atividades físicas
de quem o veste, motivo pelo qual aparentemente tenha desaparecido como
traje prático para a vida diária.
Dito isso, percebe-se ainda assim que o quimono
está profundamente arraigado na vida dos japoneses que continuam a
vesti-lo em algumas ocasiões importantes. Os eventos em que os japoneses
vestem o quimono incluem o hatsumode (a primeira visita a santuários ou templos no Ano Novo), o seijinshiki
(cerimônia que celebra a maioridade entre os jovens), cerimônias de
graduação universitária, casamentos e outras celebrações importantes e
festas formais. Em tais ocasiões, as garotas e mulheres solteiras vestem
o furisode, o quimono de mangas largas cujos desenhos
atrativos são um bom exemplo de um dos muitos aspectos da cultura
japonesa que continua florescendo.
Homem e mulher vestidos na moda
(Fotos cortesia da Associação de moda do Japão)
Fonte: Embaixada do Japão no Brasil
Interessantíssimo!
ResponderExcluirMuito informativo e inteligente, achei esse texto realmente bom. Muito obrigada :)
Muito obrigada pelo conteúdo!
ResponderExcluirObrigada! Texto excelente! Me ajudou bastante na pesquisa.
ResponderExcluirotimó conteudo,mais eu olhei tem um site com ,a mesma imagens,etexto,é indentico o nome dosite é : Embaixada do Japao no brasil.
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