Lendas sobre o Salgueiro


Não há desmerecimento às outras árvores quando o salgueiro é referido como sagrado, pois a árvore carrega este título desde tempos longínquos, em diversas culturas e regiões de todo o mundo. O salgueiro tem origem no Leste Asiático. O culto a esta árvore atravessou a Ásia passando por todo o oriente, chegando ao extremo oeste da Europa até os limites das Ilhas Britânicas. Dizem que, provavelmente, estivesse entre as principais árvores que ornamentavam os jardins da babilônia. Na Grécia, era consagrado às grandes deusas como Hera e Hécate. Normalmente dedicado às deusas noturnas ou lunares por sua forte ligação com o feminino.
A palavra “Witch” (bruxa) deriva de “Willow” (salgueiro). A árvore, desde a idade média, está associada às bruxas e as bruxas, por sua vez, ao feminino. É compreensível, portanto, que a árvore esteja ligada a ambos.
“Ele é acolhedor, é maternal e sua aparência misteriosa e, ao mesmo tempo protetora, parece esperar para lhe dar um abraço”.
Os antigos o viam como um ser maternal e acolhedor. Considerando a árvore como um símbolo da mulher.
Entretanto, apesar da forte ligação com o sexo frágil, o salgueiro é uma árvore muito resistente, principalmente ao fogo, sendo considerado inútil para a lenha.
De um simples galho de salgueiro, sem grandes cuidados, uma nova árvore brota e seu crescimento é relativamente rápido. Ele é bastante tolerante às secas e chuvas em excesso.
Na realidade, o excesso de água é muito benéfico ao salgueiro, é uma das árvores prediletas para cultivo à beira de lagos e rios, pois seu tronco nunca apodrece.
Os antigos consideravam a árvore sagrada, principalmente, por suas propriedades medicinais que contém, entre outros, poder anti-inflamatório e analgésico. Tal conhecimento ultrapassou os séculos e hoje é um dos mais eficazes e utilizados medicamentos, a “aspirina”. Desde tempos remotos já utilizavam a casca do salgueiro no combate a diversas enfermidades.
Tamanhos são os benefícios desta árvore que não deixam dúvidas sobre o motivo de carregar a alcunha de “Sagrada”.

Salgueiro "Higo" (Foto: Aflo Images)
Salgueiro “Higo” (Foto: Aflo Images)

“A esposa salgueiro”
Contam que em uma aldeia japonesa existia um imenso salgueiro que era amado por gerações sucessivas.
No verão, ele era um lugar de descanso, onde as pessoas, após o trabalho e o calor do dia, se reuniam para conversar até que a luz da lua se infiltrasse entre seus galhos, e nos dias de inverno, lembrava um enorme guarda-chuva coberto de neve.
Heitaro, um jovem lavrador, morava próximo desse salgueiro e, mais do que qualquer um da aldeia, estava em íntima comunhão com a imponente árvore.
Era a primeira coisa que Heitaro via ao acordar e a primeira que procurava ver quando retornava do trabalho no campo. O jovem rapaz tinha o costume de sempre acender um incenso e rezar à sombra do salgueiro.
Certo dia, um velho aldeão procurou Heitaro para comunicar que os homens da aldeia desejavam construir uma ponte sobre o rio e que precisavam usar o salgueiro para esse fim.
“Usar o salgueiro?”, perguntou Heitaro, escondendo o rosto entre as mãos. “Meu adorado salgueiro servir de madeira para construir uma ponte e suportar o pisar incessante de pés? Nunca, nunca, velho!”
Após se recobrar do choque, o jovem propôs dar algumas de suas próprias árvores para que eles poupassem o salgueiro.
Certa noite em que se sentava sob o salgueiro, Heitaro viu ao seu lado uma linda mulher olhando-o timidamente, como se quisesse falar.
“Respeitável senhora, vou para casa, pois vejo que está esperando alguém”, disse o respeitoso Heitaro, que compreendia e respeitava os que amam.
“Ele não virá”, respondeu a mulher com um lindo sorriso.
“É possível que o amor que ele sentia esfriasse? Oh, como é terrível o falso amor que só deixa cinzas e morte à sua passagem”, disse Hentaro em tom de lamento.
“Seu amor não esfriou, caro senhor”.
“E, no entanto, ele não vem! Que estranho mistério é esse?”
“Ao contrário, ele veio! Seu coração esteve sempre aqui sob o salgueiro”, disse a bela mulher com um sorriso radiante, para em seguida, desaparecer entre a neblina iluminada pela luz do luar.
A partir de então, passaram a se encontrar todas as noites sob o salgueiro. E a timidez da mulher havia desaparecido por completo.
Uma noite, Heitaro lhe disse: “Pequenina, você que parece vir do próprio salgueiro, quer se casar comigo?”
“Sim”, respondeu a bela mulher. “Chame-me de Higo (salgueiro em japonês) e por amor a mim, não faça perguntas, pois não tenho família e um dia você entenderá.”
Heitaro e Higo casaram e, no devido tempo, foram abençoados com um filho ao qual deram o nome de Chiyodo. O lar era simples, mas os habitantes eram as pessoas mais felizes de todo o Japão.
Um dia, porém, chegou a aldeia a notícia de que o ex-Imperador Toba desejava construir um templo em Kyoto, em homenagem ao deus Kwannon, e precisava  de madeira. Os aldeões disseram que desejavam doar o velho salgueiro para contribuir com a construção do templo.
Todos os argumentos de Heitaro, todo seu poder de persuasão e promessas de dar outras árvores em troca, foram em vão, pois nenhuma árvore substituiria o salgueiro em tamanho e beleza.
Chegando em casa, Heitaro contou o que se sucedia à esposa. “Pequenina, eles estão prestes a cortar nosso querido salgueiro! Antes de casarmos, eu não podia suportar essa ideia, mas agora, tendo você, quem sabe um dia eu possa superar essa perda.”
Nessa mesma noite Heitaro foi despertado por um grito agudo. “Heitaro”, disse a esposa. “Está ficando escuro! O quarto está cheio de rumores. Heitaro, você está aí? Ouça! Eles estão abatendo o salgueiro. Veja como sua sombra treme à luz da lua. Eu sou a alma do salgueiro! Os aldeões estão me matando, me cortando, me fazendo em pedaços. Como dói, como dói!”
“Salgueiro, minha esposa adorada, minha esposa salgueiro!”, soluçava Heitaro.
“Esposo”, disse Higo com a voz fraca e seu rosto agonizante bem junto ao dele. “Eu estou partindo. Porém, um amor como o nosso não morre aos golpes do machado, por mais fortes que sejam. Esperarei por Chiyodo e por você! Meu corpo está se quebrando! Meus cabelos se espalhando por todos os lados!”
Então, ouviu-se um tremendo estrondo vindo de fora. Era o grande salgueiro que jazia por terra com a esposa salgueiro que acabara de morrer com ele.

by Mundo-Nipo

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